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Volume 1 Número 1 - Novembro de 2009
ISSN: 2177-6571

O FUTURO DAS TECNOLOGIAS EMBARCADAS EM CAMINHÕES: UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS PROSPECTIVAS

THE FUTURE OF TECHNOLOGY IN TRUCKS LOADED: PROSPECTIVE USE OF TECHNIQUES
21/11/2009

André Dulce Gonçalves Maia

Resumo

O objetivo deste artigo é formular cenários tecnológicos futuros para a frota de caminhões no Brasil tendo como referência o ano horizonte de 2021. Tendo em vista tal objetivo, procurou-se modelar o problema decisório de uma forma simples, objetiva, consistente e segmentada. Como estratégia adicional para a construção dos cenários, decidiu–se estabelecer tendências para os eventos tecnológicos e de diretrizes políticas. Para isso, selecionou-se, a partir da pesquisa bibliográfica, a técnica de análise de impactos cruzados que utiliza as estimativas oriundas da consulta delphi como insumos para a construção dos cenários. A tendência, segundo a metodologia adotada, de ocorrência do cenário mais provável é de 59%. Os resultados obtidos neste estudo podem contribuir para subsidiar desenvolvimento de novas pesquisas nesse segmento da indústria automotiva e para a revisão de prioridades no âmbito do Transporte Rodoviário de Cargas e, mais precisamente, nos aspectos referentes à sustentabilidade da produção desses veículos.

Palavras-chave: delphi, cenarios, transporte rodoviario.
Abstract

The objective this article to make technology scenarios for the future fleet of trucks in Brazil with reference to the year horizon of 2021. This construction of scenarios, it was decided to establish trends for the events and technology policy guidelines. Select it from the literature, the technique of cross-impact analysis of using the estimates from the Delphi as inputs for the construction of scenarios. The trend, according to the methodology of which the most likely scenario is 59%. The results of this study may help development of new research in this segment of the automotive industry and to review priorities in the road freight transport and, more specifically, on aspects relating to the sustainability of production of these vehicles.

Keywords: Delphi, Scenarios, Road Transport.

1. Introdução

Os avanços nas tecnologias de comunicações e de transportes reduziram o tempo necessário para mover pessoas, materiais ou informações de um lugar para outro. Entretanto, em muitos países em desenvolvimento essas tecnologias ainda são em menor número, mantendo, com isso, precários padrões de eficiência e eficácia e desrespeito às necessidades de mobilidade e de acessibilidade da população, em especial das classes menos favorecidas.

A falta de investimentos no setor de transporte está cada vez mais originando um cenário totalmente indesejado para o desenvolvimento urbano. No transporte rodoviário de cargas, o que é visto no Brasil é a necessidade da modernização da frota visando, por exemplo, ao aumento da segurança, da redução do consumo energético, da emissão de poluentes e dos custos operacionais (Kato, 2005).

Esses fatos apontam para a necessidade de serem implementadas ações que permitam ao setor produtivo desenvolver sua capacidade competitiva, e das empresas investirem cada vez mais em capacitação e em tecnologias preparando - os para a concorrência doméstica e internacional. Para isso, devem ser desenvolvidas ações pró - ativas, com visão de futuro.

Diante disso, a prospecção tecnológica, ramo dos estudos de projeção do futuro, é a ferramenta que se revela adequada, ao propiciar a identificação de oportunidades, a percepção de riscos e a antecipação de mudanças necessárias, fornecendo elementos de suporte para a tomada de decisão (Shiftan, 2003; Roetting, 2006).

Os estudos de prospecção tecnológica são desenvolvidos através de uma variedade de técnicas usadas para determinar e avaliar o desenvolvimento de novas tecnologias, assim como o de tecnologias já estabelecidas, os impactos que essas tecnologias podem ter sobre a economia, o ambiente e as estruturas sociais (Jouvenel, 2000; Ronde, 2003). Mesmo que nenhuma técnica, em específico, possa eliminar as incertezas sobre o futuro, um processo estruturado que permita prever o futuro tecnológico e avaliar as tecnologias emergentes pode ser de grande ajuda para a tomada de decisão tecnológica (Ranafin, 2004).

Apenas como referência, os métodos e técnicas utilizados na prospecção podem ser categorizados em: monitoramento e sistemas de inteligência; análise de tendências; opinião de especialistas; modelos computacionais e ferramentas analíticas; cenários e a criatividade. Como exemplos desses métodos, pode - se destacar: para o monitoramento e sistemas de inteligência (inteligência competitiva tecnológica); para análises de tendência (regressão; curva S; equações de Lotka Volterra); para opinião dos especialistas (delphi; painel de especialistas; tecnologias críticas; surveys, avaliação individual; comitês, seminários, conferências e workshops); para os cenários (Global Business Network, Schoemaker, Porter, dentre outros), enquanto para os modelos computacionais e ferramentas analíticas (modelagem; simulação; análises multicritérios; data mining); para criatividade (análise morfológica; análise de impacto; brainstorming; focus group; metáforas e analogias; ficção científica) (Godet e Roubelat, 2000; Coelho, 2003). Sendo assim, o objetivo deste artigo é formular cenários tecnológicos futuros para a frota de caminhões no Brasil para o ano horizonte de 2021. Como estratégia adicional para a construção dos cenários, decidiu–se estabelecer tendências para os eventos tecnológicos e de diretrizes políticas. Para isso, selecionou-se, a partir da pesquisa bibliográfica, a técnica de análise de impactos cruzados que utiliza as estimativas oriundas da consulta delphi como insumos para a construção dos cenários.

 

2. Metodologia adotada para a construção dos cenários prospectivos

Conforme visto na literatura consultada, a construção de cenários não é algo novo e alguns modelos são bastante complexos e dependem de recursos computacionais específicos para tratamento de dados. Outros, devido à sua simplicidade, apresentam várias limitações quanto aos seus resultados.

Então se procurou modelar o problema decisório de uma forma simples, objetiva, consistente e segmentada. Para isso, foi concebida uma proposta metodológica de construção de cenários, baseada em algumas etapas dos modelos mais difundidos na literatura pesquisada, como o de Porter, Global Business Network (GBN) e Grumbach. A Figura 1 apresenta o modelo teórico organizado para nortear o processo prospectivo no âmbito do setor de Transporte Rodoviário de Carga (TRC) com suas respectivas etapas.


FIGURA 1 - Etapas do modelo teórico do processo prospectivo.

Para efeito de aplicação da técnica delphi, aproveitaram-se as dimensões tecnológicas detalhadas em componentes mais específicos (eventos), consolidadas no trabalho de Maia et al. (2007), conforme Tabela 1

 

TABELA 1 - Seleção de eventos associados às dimensões de estudo.


Dimensões Eventos – questões de consulta para a aplicação da técnica delphi
Código Descrição
Segurança E1 A maioria dos veículos terá sensores para reduzir as colisões frontais, laterais e em conversões.
E2 Amplo uso da telemática para garantir não somente a segurança patrimonial ou o entretenimento da tripulação, mas também o gerenciamento dos padrões de desempenho dos veículos e das operações do transporte.
E3 Implementação mais intensa de sistemas avançados de freios, a exemplo do sistema ABS, dentre outros.
E4 Maior utilização de funções inteligentes, como a iluminação com temporizador, o aviso sonoro que evita bascular a cabine com as portas abertas, dentre outros.
E5 Novos sistemas de segurança ativa, como o drowsiness alert (alerta para sonolência ao volante), apoio para mudança de faixa, dentre outros.
Uso de novos combustíveis alternativos e eficiência energética E6 Predominância do biodiesel como combustível veicular
E7 Amplo uso do sistema Dual - Fuel, a exemplo do sistema diesel - gás natural.
E8 Generalização do sistema tricombustível, a exemplo do conjunto diesel, gás natural e biodiesel.
E9 Utilização do hidrogênio como combustível veicular.
E10 Adoção de pneus mais elásticos e fortes.
E11 Motores com maior torque.
E12 A cabine ficará cada vez mais aerodinâmica, ou seja, mais redonda e mais “bicuda”.
E13 Uso de carrocerias com forma aerodinâmica.
E14 Melhorias nos sistemas de admissão de ar e exaustão do motor
E15 Melhorias no trem de força (transmissão, diferencial e elementos do eixo traseiro).
Tecnologia Veicular de Materiais E16 Intensa utilização de materiais naturais, como a fibra de sisal, para o revestimento das paredes laterais e traseiras dos veículos.
E17 Amplo uso de materiais mais leves, mas altamente resistentes.
Esquemas Operacionais E18 Maior utilização de veículos combinados Rodoferroviários.
E19 Supremacia dos veículos pesados (30 a 45 toneladas) no Transporte Rodoviário de Cargas.
E20 Maior utilização de combinações de veículos de carga (bitren, rodotrem etc)
E21 Tendências de veículos leves (4 a 10 toneladas) para o transporte de cargas urbanas.
Conforto E22 Cabine cada vez mais espaçosa e de fácil acesso.
E23 Controle da temperatura e isolamento de ruídos no interior das cabines e bancos em conformidade com as exigentes orientações da comunidade médica.
E24 O painel com menos instrumentos de controle.
E25 Grande avanço das tecnologias by wire, como o steer e o brake-by-wire (esterçamento e frenagem por comando eletromecânico, respectivamente).
E26 Tecnologias avançadas quanto à caixa de câmbio automática.
Meio Ambiente E27 Ênfase no aprimoramento de motores mecânicos em conformidade com as leis ambientais.
E28 Predominância de motores eletrônicos com menor nível de emissão de poluentes.

Analogamente ao procedimento seguido para a seleção dos eventos tecnológicos, decidiu–se estabelecer eventos de diretrizes políticas que poderão condicionar o comportamento do setor, como apresentados na Tabela 2.

TABELA 2 - Seleção de eventos/diretrizes políticas associados às dimensões de estudo.

 

Dimensões Eventos – questões de consulta para a aplicação da técnica delphi
Código Descrição
Política de transporte E29 Desenvolvimento da navegação fluvial e de cabotagem, com o conseqüente declínio da participação do modal rodoviário na matriz do transporte de cargas.
E30 Uso intensivo do transporte intermodal de cargas (aéreo-rodoviária, hidroferroviária ou rodoferroviária).
E31 Amplos investimentos de embarcadores, em terminais especializados.
Tecnologia rodoviária E32 Predomínio de tecnologias avançadas em termos de ligantes asfálticos, tubos de drenagem e sinalização (radares, câmeras, painéis com mensagens variadas, ITS – Inteligent Transportation System), além de maquinário empregado nas áreas de construção, reciclagem e avaliação de pavimentos.
E33 Grandes inovações em tecnologias de pesagem (balanças móveis e fixas e inteligência aplicada ao controle de carga).
Economia e finanças E34 O crescimento do roubo de cargas.
E35 Elevação de multas previstas pelo Código de Trânsito Brasileiro.
E36 Maior facilidade e utilização dos programas que oferecem linhas de financiamento para a compra de veículos novos.
E37 Estabilidade econômica e grande desenvolvimento da agricultura no país.
E38 Implantação de programas de renovação da frota com o apoio do governo.
Meio Ambiente E39 Redução em 50% da emissão de CO2 pelo transporte rodoviário de cargas, em especial, dos caminhões.
E40 Implementação de restrições legais mais severas quanto à geração de emissões atmosféricas locais.
E41 Maior difusão e informações sobre as conseqüências dos impactos ambientais provocados pelos caminhões.

A consulta solicitou aos especialistas que indicassem a possibilidade de ocorrência dos eventos (variando de 0% a 100%) para o ano horizonte de 2021. Também se solicitou (foi pedida, foi solicitada) a atribuição do grau de pertinência do evento, variando de 1 (baixa) a 9 (altíssima), proporcional à intensidade do seu reflexo para o tema em estudo. Paralelamente, o especialista deveria expressar uma auto-avaliação do seu grau de conhecimento e experiência, variando de 1 (tem conhecimento apenas superficial do assunto) a 9 (considera-se conhecedor do assunto) acerca de cada evento individualmente analisado.

A aplicação do questionário é encerrada quando se considera que houve consenso nas respostas dos especialistas. Estatisticamente, considera-se que houve consenso quando a diferença entre o 1º e o 3º quartil da medida avaliada para cada evento for inferior a 25% do seu intervalo máximo e, o coeficiente de variação (CV), que é o quociente entre o desvio padrão e a média, for inferior a 30% (Cardoso, 2004).

Dos especialistas consultados, 128 concordaram em tomar parte na pesquisa. Entretanto, somente 33 especialistas do segmento da cadeia do TRC responderam à primeira rodada, sendo que 90,9% dos respondentes têm terceiro grau, pós–graduação, mestrado ou doutorado. O questionário da segunda rodada foi enviado aos especialistas que responderam à primeira. A taxa de retorno da segunda rodada foi de 100%.

Os resultados das rodadas delphi realizadas em um conjunto representativo de especialistas do setor forneceram a base para estabelecer a correlação entre os eventos, tanto tecnológicos quanto diretrizes políticas, selecionados, empregando a técnica dos Impactos Cruzados. Para isso, foi utilizado o software PUMA (Pointwise Unconstrained Minimization).

Tendo-se os dez eventos definitivos selecionados (Tabela 3), enviou-se aos mesmos especialistas o segundo questionário em que estes avaliaram o impacto que a ocorrência de um evento causaria sobre a possibilidade de ocorrência dos outros eventos.

TABELA 3 - Dez eventos definitivos selecionados.

 

Itens Código Possibilidade de ocorrência
Em 2021 (1ª etapa)
Possibilidade Média Pertinência Média Auto-Avaliação Desvio Padrão
Meio ambiente E19 95 8,41 8 14,34
Meio ambiente E39 83 8,15 7 16,66
Conforto E22 93 8,03 7 13,59
Novos comb. alt. e efic. energética E7 91 8,00 7 17,22
Meio ambiente E40 87 7,97 7 15,06
Meio ambiente E41 86 7,88 7 16,14
Esquemas operacionais E21 90 7,69 7 14,56
Tecnologia rodoviária E33 79 7,69 7 19,75
Economia e finanças E36 87 7,68 7 14,91
Conforto  E24 88 7,67 7 17,34

Neste ponto, é importante ressaltar que o número de especialistas que participou dessa fase da pesquisa ficou limitado a 20 (vinte). É certo que isso é um fator limitador para os resultados obtidos, embora não comprometam totalmente os resultados, indicando a direção em que o conjunto de avaliadores aponta para os desdobramentos possíveis da ocorrência dos eventos em análise.

A partir dos resultados computados do segundo questionário no software PUMA 4.0, foi possível gerar a matriz de impactos medianos, conforme visualizada na Figura 2.


FIGURA 2 - Matriz de impactos medianos. Fonte: Sistema PUMA.

A interpretação desses resultados aponta que a maioria das combinações foram consideradas independentes, com valor 0 (zero) na matriz, e duas foram consideradas próximas à certeza de ocorrência com valor 4 (quatro) na matriz (Linha 7/ Coluna 8 e Linha 9/ Coluna 8). Nenhum valor 5 (cinco), de certeza de ocorrência, foi observado. Essa análise apontou como de maior motricidade o evento 39, que retrata a redução em 50% da emissão de CO2 pelo transporte rodoviário de cargas, em especial, dos caminhões com peso 15, seguido do evento 21 (amplo uso da telemática para garantir não somente a segurança patrimonial ou o entretenimento da tripulação, mas também o gerenciamento dos padrões de desempenho dos veículos e das operações do transporte), do evento 40 (implementação de restrições legais mais severas quanto à geração de emissões atmosféricas locais) e do evento 41 (maior difusão e informações sobre as conseqüências dos impactos ambientais provocados pelos caminhões), com peso 9.

Pelo aspecto da dependência, o evento 19 (predominância de motores eletrônicos com menor nível de emissão de poluentes) e o evento 36 (maior facilidade e utilização dos programas que oferecem linhas de financiamento para a compra de veículos novos) foram apontados com peso 10, como sendo os mais dependentes, seguidos dos eventos 40 e 41.

A partir dos resultados descritos anteriormente, foi possível gerar os cenários. O processamento inicial apresentou inicialmente 1024 cenários, que foram refinados após a análise de dependência versus motricidade com a retirada do evento 33 (grandes inovações em tecnologias de pesagem), pois tal evento foi considerado autônomo (valores baixos de motricidade e baixos de dependência), passível de exclusão. Entretanto, é bom ressaltar que a inoperância dos sistemas de controle de pesagem das cargas transportadas é um dos principais fatores de deterioração dos pavimentos das rodovias.

Diante disso, o processamento final, com os nove eventos determinantes, gerou 64 cenários, totalizando 512 combinações. Além disso, justifica-se a seleção de apenas dez cenários para análise, visto que representam 89,3% da possibilidade total de ocorrência dos cenários. Os demais, 1014 cenários, representam 10,7% de possibilidade de ocorrência.

Quanto à tipologia dos cenários, esta varia de autor para autor. Para a análise dos cenários da presente pesquisa, será utilizado o mesmo procedimento do trabalho de Godet e Roubelat (2000) em que compreenderam a comparação entre três propostas: a mais provável, a considerada ideal e a tendencial. Sendo assim, o cenário mais provável é aquele que aparece no topo da relação de cenários possíveis. Para Marcial e Grumbach (2005), o cenário de tendência é aquele que corresponde à projeção dos acontecimentos passados sobre o caminho futuro a ser percorrido pela organização. O cenário ideal é aquele que contempla todas as ocorrências positivas e que desconsidera as ocorrências negativas, do ponto de vista do decisor estratégico.

A análise de sensibilidade dos cenários gerados considerou o cenário de tendência na pesquisa como sendo o de número dez, visto que a não - ocorrência do evento dezenove (predominância de motores eletrônicos com menor nível de emissão de poluentes) foi considerada como uma possível ruptura no sistema. A identificação desse cenário teve o auxílio do mapeamento realizado sobre as tecnologias em caminhões desenvolvido no capítulo 4 e de conversas com alguns especialistas da área. Já o cenário mais provável apresentou aproximadamente 58,61% de possibilidade de ocorrer.

No que concerne ao cenário ideal, este se encontra na posição quarenta e sete, dentre as 512 possíveis com possibilidade 0,05% de ocorrer porque nele se identifica a não ocorrência dos eventos 19 (predominância de motores eletrônicos com menor nível de emissão de poluentes) e 36 (maior facilidade e utilização dos programas que oferecem linhas de financiamento para a compra de veículos novos – evento desfavorável). Eventos estes também identificados de acordo com o mesmo critério dos eventos de tendência salientados anteriormente. A Tabela 4 apresenta uma síntese da composição desses três cenários (mais provável, tendência e o ideal) e a interpretação desses cenários será realizada no próximo item.

TABELA 4 - Síntese dos cenários gerados (mais provável, tendência e o ideal).

 

Código Eventos Cenários
Mais Provável Tendência Ideal
7 Amplo uso de materiais mais leves, mas altamente resistentes. ocorre ocorre ocorre
19 Predominância de motores eletrônicos com menor nível de emissão de poluentes. ocorre não ocorre não ocorre
21 Amplo uso da telemática para garantir não somente a segurança patrimonial ou o entretenimento da tripulação, mas também o gerenciamento dos padrões de desempenho dos veículos e das operações do transporte. ocorre ocorre ocorre
22 Implementação mais intensa de sistemas avançados de freios, a exemplo do sistema ABS, dentre outros. ocorre ocorre ocorre
24 Novos sistemas de segurança ativa, como o drowsiness alert (alerta para sonolência ao volante), apoio para mudança de faixa, dentre outros. ocorre ocorre ocorre
36 Maior facilidade e utilização dos programas que oferecem linhas de financiamento para a compra de veículos novos. ocorre ocorre não ocorre
39 Redução em 50% da emissão de CO2 pelo transporte rodoviário de cargas, em especial, dos caminhões. ocorre ocorre ocorre
40 Implementação de restrições legais mais severas quanto à geração de emissões atmosféricas locais. ocorre ocorre ocorre
41 Maior difusão e informações sobre as conseqüências dos impactos ambientais provocados pelos caminhões. ocorre ocorre ocorre
Possibilidade (%) 58,61 0,92 0,05

 

 

4. Considerações Finais

A identificação de ameaças e oportunidades tecnológicas em um setor da economia deve levar em consideração as forças políticas, econômicas, sociais, culturais além, é claro, das tecnológicas, pois essas forças têm considerável influência no desenvolvimento de cada segmento industrial.

Considerando essa mesma diretriz, o presente trabalho assumiu uma situação hipotética para avaliar o comportamento dos eventos associados às dimensões de diretrizes políticas. Por meio do programa Puma, foram selecionados dez eventos dentre os totais (28 eventos tecnológicos e 13 de diretrizes políticas) para gerar os cenários: mais provável, tendencial e ideal. Pensou–se que as diretrizes políticas, devido à ocorrência em eventos do macroambiente, fossem sobressair aos eventos tecnológicos. Entretanto, isso não aconteceu. Os dez eventos selecionados foram igualmente distribuídos em número de cinco. Isso reforça a hipótese de que o caminho natural para estudos prospectivos é a construção de cenários de caráter macroscópicos, buscando estabelecer as possíveis tecnologias que possam ser utilizadas associadas às diretrizes políticas do país.

Quanto ao cenário mais provável, pode-se observar através da Tabela 4 que as mudanças climáticas e o aquecimento global, fenômenos que já são presentes, farão com que a legislação ambiental seja cada vez mais rigorosa, impulsionando a difusão e informações sobre as conseqüências dos impactos ambientais provocados, no caso específico pelos caminhões, impulsionando o uso de caminhões menos poluentes e barulhentos, mais leves e econômicos.

Quanto ao consumo, alternativas como, por exemplos, o aumento de eficiência energética dos veículos para diminuir o nível das emissões; associar à tecnologia da queima limpa uma sofisticação do controle eletrônico das operações do motor; exigir um diesel cada vez mais limpo e o uso de combustíveis alternativos, tais como o biodiesel, são claras. Outro ponto interessante para se destacar é que haverá a adoção de uma política mais rígida na fiscalização do peso das cargas transportadas e a pressão ecológica impulsionará o uso de metais mais leves pelos fabricantes de implementos e veículos. Além do aspecto ambiental, prevê–se o surgimento de outras inovações técnicas para melhoria da eficiência na qualidade e no conforto desse tipo de transporte que, por sua vez, correspondem a avanços significativos em áreas como telemática, segurança veicular, automação e controle e gerenciamento da energia utilizada pelo veículo.

A função básica da telemática não se restringirá mais a garantir a segurança patrimonial, mas a gerenciar os padrões de desempenho dos veículos e das operações de transporte. Com toda a certeza, surgirão novas geometrias e novas maneiras de se distribuir o peso por eixos, isso para reduzir a distância entre a cabina e o semi-reboque, aumentando assim o volume de carga e diminuindo a resistência do ar. Ou seja, se o caminhoneiro souber operar o sistema, melhor será o desempenho do veículo.

No que concerne ao cenário tendencial, a única ruptura, ou seja, o evento desfavorável foi a predominância de motores eletrônicos com menor nível de emissão de poluentes (E19), conforme visto na Tabela 4.

Nesse particular, a ocorrência desse evento poderá ocasionar os seguintes fatos: o crescimento da demanda por caminhões usados devido ao preço elevado dos veículos com esse tipo de tecnologia, quando comparado ao da tecnologia tradicional, o do motor mecânico

Já no cenário tendencial (Tabela 4), as únicas rupturas foram os eventos 19 (predominância de motores eletrônicos com menor nível de emissão de poluentes) e o 36 (maior facilidade e utilização dos programas que oferecem linhas de financiamento para a compra de veículos novos). Quanto ao evento 36, este foi considerado uma ruptura, pois para reduzir a idade média da frota nacional não se deve apenas estimular vendas, mas também aliar um mecanismo que retire de circulação os veículos velhos.

Sendo assim, o procedimento metodológico desenvolvido neste estudo permitiu discutir objetivamente a priorização de tecnologias e é base para análise de qualquer situação em que se queira implementar um estudo de planejamento estratégico, baseado em cenários prospectivos, cabendo, tão somente, a preocupação de adaptá-los à realidade em questão.

Cabe ressaltar que os cenários apresentados fornecem apenas alguns possíveis desdobramentos do que pode ser gerado dentro das circunstâncias projetadas pelos especialistas. As projeções futuras obtidas neste estudo poderão subsidiar o desenvolvimento de novas pesquisas visando a revisão de prioridades no âmbito do Transporte Rodoviário de Cargas no Brasil e, mais, precisamente, no que se refere aos aspectos referentes à sustentabilidade da produção desses veículos.

 

Referências

COELHO, G. Prospecção Tecnológica: Metodologias e experiências nacionais e internacionais. Instituto Nacional de Tecnologias. . Arquivo capturado no site http://www.tendencias.int.gov.br em 17/06/2006.

KATO, J. Cenários Estratégicos para a indústria de transportes rodoviários de cargas no Brasil. Tese (doutorado) - Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, 2005.

GODET, M. e ROUBELAT, F. Scenario planning: an open future. Technological Forecasting and Social Change, New York, v. 65, 2000.

JOUVENEL, H.. A brief methodological guide scenario building. Technological Forecasting and Social Change, New York, v.65, n.1, pp. 37 – 48, 2000.

RANAFIN, S. Review of literature on the Delphi Technique. Arquivo capturado no site http://www.scholar.google.com em 09/08/2005.

ROETTING, M. When technology tells you drive – truck drivers attitudes towards feedback bytechnology. Transportation Research F6, p.275 - 287. Disponível em http://www.elsevier.com/locate/trf, acessado em 15/02/2006.

RONDE, P. Delphi Analysis of National Specificities in Selected Innovative Areas in Germany and France. Technological Forecasting & Social Change 70, pp.419 – 448. Disponível em http://www.sciencedirect.com, acessado em 15/02/2006.

SHIFTAN, Y.; KAPLAN, S.; HAKKERT, P. Scenario building as a tool for planning a suatainable transportation system, Transportation Research D.8, p.323 – 342. . Disponível em http:// www.elsevier.com/locate/trf, acessado em 15/02/2006.

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